domingo, 26 de setembro de 2010

Hospital e Maternidade de Morretes

INAUGURAÇÃO DO NOVO PAVILHÃO
DO HOSPITAL E MATERNIDADE DE MORRETES


Discurso proferido em 31 de outubro de 1953


Cumprindo uma das mais importantes partes do programa dos festejos da data máxima da nossa terra, eis-nos aqui para inaugurar, com a honrosa presença do Exmo. Sr. Dr. Bento Munhoz da Rocha Netto, ilustre Governador do Estado, o novo pavilhão do Hospital e Maternidade de Morretes.

Não foram os sacrifícios sem conta que a execução desta obra exigiu dos responsáveis pelos destinos deste hospital, e não teria este ato o significado todo especial de que se reveste.

Quando abnegados cidadãos deram início à construção do prédio original, ainda estavam sob a impressão daqueles que, com espírito derrotista, não acreditavam poder esta casa manter-se, nem alcançar o índice de aproveitamento à altura das necessidades do nosso município. Assim foi que pensaram serem suficientes aquelas duas alas iniciais e o pavilhão da enfermaria. Porém de tal forma revelou-se a utilidade deste estabelecimento, que em breve passou a abrigar um número cada vez maior de enfermos, tornando-se pequena a sua enfermaria para os doentes pobres aqui internados gratuitamente, bem como para os que, possuidores de recursos, utilizavam os quartos particulares. As parturientes da seção maternidade, de início retraídas, foram aos poucos se habituando a utilizar os recursos médicos e a segurança que lhes oferecia esse ambiente.

E assim é que o nosso hospital, inaugurado há apenas três anos e meio, logo sentiu a necessidade de uma ampliação. Os recursos financeiros eram escassos, entretanto, a administração inteligente e a abnegação de muitos, possibilitou a construção deste novo pavilhão, onde vamos encontrar um conjunto cirúrgico montado sob a exigência da técnica moderna, uma sala de laboratório, rouparia, novas enfermarias, instalações diversas e uma sala reservada para os que possuem fé e têm a felicidade de se encontrar abrigados sob o manto da cristandade: é uma sala reservada para uma capela, que mãos de senhoras bondosas da nossa sociedade brevemente completarão, inspiradas por sentimento de caridade e religiosidade.

Ao inaugurarmos esta construção, é justo que se preste homenagem, por demais merecida, àqueles a quem se deve este grande empreendimento, aos cidadãos que possuem o dom divino, aqueles que são inspirados pelo ideal de servir. O Sr. Dr. Pedro Alves Baraúna, como presidente da Associação Mantenedora do Hospital e Maternidade de Morretes, é um homem que já conquistou a estima e o respeito dos Morretenses, no exercício de sua nobre profissão e no trato dos assuntos que dizem respeito ao progresso de nossa terra e à felicidade do nosso povo. Joaquim Luz de Souza, membro-tesoureiro, tem dispendido boa parte do seu tempo na tarefa preciosa de cooperar nos trabalhos deste hospital. Antonio José Gonçalves Filho é o benemérito de sempre, tornando cada vez mais merecida a placa de bronze que contém o seu nome no pórtico desta casa. Lucília Pires é a enfermeira-chefe diligente e dedicada, sendo sua mocidade inteiramente dedicada aos enfermos, fazendo da sua profissão um sacerdócio. O Dr. Alcídio Bortolin, ora em viagem pelo estrangeiro e aqui representado por seu progenitor, é o profissional competente, é o médico capaz e o diretor diligente, enérgico e previdente. A distinção de que foi alvo recentemente, ao receber o diploma de membro do Colégio Internacional dos Cirurgiões, em congresso realizado em Curitiba neste ano festivo do centenário do Paraná, foi das mais merecidas e encheram de justificado júbilo seus amigos de Morretes. Não poderíamos ser mais felizes, no convite que fizemos três anos atrás, àquele moço que saíra havia pouco dos bancos acadêmicos. Ele possuía, indiscutivelmente, inato o seu talento e tinha bem em mente o juramento de Hipócrates:

“Ao exercer a medicina, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze para sempre a minha vida e a minha arte de boa reputação entre os homens”.

E o Dr. Alcídio Bortolin, verdadeiramente, goza dessa boa reputação.

Finalmente prestamos nossa sincera homenagem ao Exmo. Sr. Dr. Lauro Lopes (aqui representado pelo Dr. Pedro Baraúna), ilustre representante do nosso Estado na Câmara dos Deputados, cuja atuação, no Rio de Janeiro, tem sido exercida no sentido de beneficiar o nosso Paraná, e de especial modo as associações de beneficência, através de verbas que, mercê de seu prestígio, coadjuvado pelos ilustres demais representantes paranaenses na Câmara Baixa, têm sido incluídas, a favor do nosso Estado, nos orçamentos da União. O nosso hospital e Morretes muito devem a Lauro Lopes, pelo que, merece o nosso fervoroso agradecimento.

Eram estas, meus senhores, as palavras que desejávamos pronunciar nesta solenidade, tradutoras da satisfação que nos vai n’ alma pela conclusão desta obra e pela passagem, hoje, do aniversário de fundação da nossa estremecida terra.

Fazemos ardentes votos de que as altas autoridades e visitantes aqui presentes possam aquilatar o nosso esforço na visita que ora nos fazem, e que continuem a volver suas vistas para este Hospital e Maternidade, amparando-o moral e materialmente, servindo de estímulo aos que, trabalhando nesta casa pela saúde do povo, querem contribuir para um Brasil mais feliz e mais forte.

Tenho dito.


Presentes à inauguração o Governador Bento Munhoz da Rocha e autoridades

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Dia da Pátria

Independência ou morte
Tela de Pedro Américo



Os cidadãos Morretenses reúnem-se mais uma vez para comemorarmos, no dia de hoje, a Independência da nossa Pátria. Nosso passado está pleno de exemplos dignificantes, em que nosso povo pôs em evidência os seus sentimentos de brasilidade. Nossa história contém páginas de ouro, escritas com a bravura dos nossos soldados, guiados por seu ideal patriótico ou por senso de justiça. (...)

Dentre as passagens mais emocionantes da História do Brasil, testemunhas de que aquela Independência conquistada por D. Pedro I, José Bonifácio e tantos outros, haveria de ser conservada com o sacrifício mesmo das próprias vidas dos brasileiros, desejamos citar o episódio do Tenente Antonio João. O Tenente que, em 1865, com uma pequena escolta na fronteira de Mato Grosso, pressentiu a invasão das tropas paraguaias, foi convidado a se render. Respondeu a seus adversários que jamais o faria e, depois de arrasado com seus companheiros, deu oportunidade a que fosse encontrado um bilhete seu com estes dizeres: “sei que morro, mas o meu sangue e o dos meus companheiros servirá de protesto solene contra a invasão do solo da minha Pátria”. (...)

Em Monte Castelo, Montese e outros palcos de lutas foram escritas páginas de heroísmo, e é orgulho para nós, Morretenses, termos contribuído com a participação dos nossos moços, entre eles: Olavo Rebelo, Batista Vieira, Francisco Ribeiro, Avelino Cordeiro, Laudinor Bornancin, Santino Martins, Benigno Pinto Filho, Hurbano Ribeiro Filho, Ernesto de Oliveira (Catarina), Pedro Trevisan Filho, Humberto Brites, Pedro Scucato, Pedro Costa, Douglas Negrão e Tarquino Feliciano. (...)

O povo brasileiro, a par desses dotes de bravura, possui o sentimento religioso, que o faz feliz e certo da proteção divina.

Essa é a razão pela qual comemoramos a data magna nacional, fazendo realizar, em praça pública, uma Missa em ação de graças. A Missa ao ar livre nos associa com a exuberante natureza que nos evoca fatos que falam à nossa alma e aos nossos corações. Quando, a 22 de abril de 1500, a frota de Pedro Álvares Cabral aportava às costas da nossa Pátria, vinham com ele alguns franciscanos, encarregados de incorporar a nova terra ao reino de Cristo. E eis que, a 26 de abril, apenas quatro dias após a descoberta, já era celebrada, no local denominado Coroa Vermelha, a primeira Missa em terras brasileiras. Alguns dias após, 1º de maio, celebrava Frei Henrique de Coimbra outra Missa festiva com solene sermão alusivo ao ato de posse da terra. Era a primeira vez que, no silêncio daquelas matas intermináveis, soavam as campainhas para anunciar a presença de Jesus Sacramentado.

Morretenses! Elevemos nossos agradecimentos a Deus pela proteção que tem exercido sobro o povo brasileiro e exortemos a nossa mocidade a seguir o exemplo de seus ancestrais, de amor, de bravura, de sacrifícios, em prol da Independência da nossa querida Pátria.

Tenho dito
Primeira Missa no Brasil
Tela de Victor Meirelles - 1860


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Olympio Trombini

Revendo alguns recortes de jornais da coleção do meu pai um deles me chamou atenção - é o programa de governo de Olympio Trombini, prefeito de Morretes (1944-1945).
Como estamos em época de eleição e, principalmente pelo conteúdo dos seus vinte princípios, acho interessante a sua divulgação.

Eis aqui os vinte princípios de Olympio Trombini, - seu programa administrativo e base fundamental da grandeza desta terra, em cuja protecção, neste momento invocamos contrictos, os manes de Rocha Pombo, Rômulo José Pereira e José Gonçalves de Moraes.

Morretenses de boa vontade! Seja também vosso o nosso lemma:

“TUDO PELA GRANDEZA DE MORRETES”

PROGRAMA:

1º Disseminação, sob formas e modalidades diversas, do ensino em geral como base primordial da formação do homem-padrão (...)

2º Abertura de várias artérias rodoviárias, com todos os requintes da technica moderna ligando entre si os centros productores aos centros consumidores.

3º Abertura, em tempo opportuno, das artérias rodoviárias: a) ligando a cidade de Morretes a futurosa Villa de Guaratuba. b) ligando o bairro do Sambaquy ao Morro Alto.

4º Conservação das artérias do Município em perfeito estado (...)

5º Incentivar o desenvolvimento agrícola, facilitando aos interessados, de algum modo os meios de acquisição de sementes (...)

6º Installação da Rede de Água e Esgotos, dentro das posses materiaes do Município.

7º Uma Câmara Municipal composta de homens prôbos e capazes (...)

8º A applicação das rendas municipaes (...) será feita de modo equitativo e justo (...)

9º Toda e qualquer lei, emanada do legislativo municipal e sanccionada pelo Prefeito, só entrará em vigor depois de decorridos trinta dias da sua publicação no Diário Official do Estado.

10º Regimem de ampla publicidade dos balancetes e dos demais actos do Prefeito, especialmente nos que se referirem à arrecadação e applicação dos dinheiros públicos.

11º Auxílio material a “Banda Musical Euterpina”, a fim de que ella não venha a succumbir a míngua de recursos e, antes possa preencher os fins a que se destina.

12º Assistência hospitalar gratuita aos indigentes.

13º Desenvolvimento de um programma que facilite e dissemine conhecimentos, inda que mui rudimentares, de hygiene educacional.

14º Combate sem tréguas às moléstias palúdicas e à ankilostomiase ou “amarelão” (...)

15º Exames veterinários das rezes abatidas nos matadouros (...)

16º Amparo incondicional à lavoura da banana e à indústria da aguardente (...)

17º Incentivar, de harmonia com o Estado, a colonização das terras devolutas ainda existentes neste município.

18º Regimen de rigorosa economia, em se tratando de despesas supérfluas ou prescindíveis, condição essencial para o perfeito equilíbrio orçamentário nos futuros exercícios financeiros (...)

19º Isenção de todos e quaisquer impostos municipaes, pelo prazo de cinco annos, para a firma individual ou empreza collectiva legalmente constituida, que se proponha explorar a indústria cerâmica em geral, no povoado de “Barreiros”, nella empregando um conjunto de machinarios modernos e aperfeiçoados e invertendo nesse emprehendimento um capital nunca inferior a cento e cinqüenta contos de reis.

20º Regimen de honestidade, equidade e justiça, inspirado na phrase do meigo Nazareno: "A Cesar o que é de Cesar, e a Deus o que é de Deus”.