quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Lange de Morretes*

Em 2004, ano do centenário de nascimento do meu tio Th. De Bona, foi relançado o livro “Curitiba pequena Montparnasse” escrito por ele anos antes de seu falecimento. Ele dedicou um capítulo a Frederico Lange, pintor-artista, que nasceu em Morretes, em 5 de maio de 1892, na estrada da América de Cima e acrescentou ao seu nome Morretes – em homenagem à sua terra natal.




Sobre Lange De Bona escreveu: Possuidor de aberta inteligência, vasta cultura adquirida, desenvolveu sua personalidade em direção a tudo que dizia respeito às artes plásticas (...). Dedicando-se exclusivamente à paisagem foi, indiscutivelmente, um entre os melhores pintores impressionistas do Brasil de sua época. Não somente pelas qualidades pictóricas e estudos acadêmicos, que possuía, mas também pelo grande amor que dedicava às nossas paisagens, nas suas diversas modalidades e efeitos surpreendentes (...). Tinha ele a finalidade de pintar um dos mais grandiosos espetáculos que oferece a natureza deste nosso planeta e, justamente, localizado em nosso Estado (...).  E digo ainda mais, agora com meu discernimento amadurecido: - Não conheço nenhum outro pintor do Brasil, que tenha superado Lange pintando as Cataratas do Iguaçu (...).


Lange foi pintor, desenhista, gravador, professor e cientista. Com Turim e Ghelfi criou o Paranismo - movimento de afirmação da cultura paranaense, no final do século XIX - sugeria que os artistas utilizassem em suas obras referências locais, como o pinhão, araucária, erva mate etc.
O pinhão estilizado  geometricamente que compõe as calçadas de Curitiba é obra de Lange.

Calçada em petit pavé - Praça Osório  Curitiba


Igual a muitos artistas possuía algumas extravagâncias... Afirmava coisas absurdas, entre elas, a de sua morte, com data marcada com dois anos de antecedência. Passado o primeiro ano, garantia com muita tranqüilidade, sempre gozando perfeita saúde, que a sua morte iria ocorrer no ano seguinte. Para maior surpresa dos amigos, veio, de fato, a falecer no tempo por ele previsto - 19 de janeiro de 1954 (...). Foi sepultado em Morretes, num espaço provisório, e posteriormente transferido para o túmulo que havia desenhado e encomendado ao amigo  Mikare Thá da grande firma construtora. Foi colocado em pé, virado para a bela montanha do Marumbi, como era seu desejo.
Frederico Lange de Morretes, pintor impressionista brasileiro, repousa no fundo do cemitério de Morretes, ao lado direito de quem entra, tendo como ornamento alguns caramujos, símbolo de sua paixão pela ciência e, tendo como fundo a grandiosa montanha do Marumbi, com seus 1890 metros de altura, na sua imponente beleza tantas vezes pintada por ele e sempre amada (...).


Túmulo idealizado por Lange e construído conforme seu desejo








 Foi o autor do primeiro catálogo de moluscos do Brasil como  também dos principais estudos sobre o assunto e organizou uma exposição com mais de 2000 espécimes.
Acompanhei duas turistas amigas, conhecedoras de artes e admiradoras do artista, ao cemitério de Morretes para conhecer o túmulo, pois sabiam da sua história. Grande foi a nossa decepção ao encontrarmos o local abandonado e a sepultura coberta de mato! 




Contando este fato a uma guia de turismo, que a pedido dos visitantes os levou para conhecer o jazigo de Lange, soube que ela e o grupo também passaram por enorme desapontamento ao encontrar o lugar naquela situação. Lamentável ...nem sequer uma indicação sobre o local do seu túmulo, justamente ele que escolheu permanecer no cemitério da sua terra natal!

A Lei municipal nº 186/2012, sancionada pelo prefeito local em 13/08/2012, estabelece a cobrança de uma taxa de turismo a partir do dia 1º de janeiro de 2013, porém, com ou sem a cobrança dessa taxa muita coisa precisa ser feita na nossa cidade.
Morretes é uma terra privilegiada pela beleza natural, por sua história, pelos cidadãos que se destacaram aqui e lá fora, saboroso barreado,  comércio diversificado e artesanato em abundância.
O que está faltando?


*A despedida do famoso pintor junto ao túmulo foi feita pelo meu pai, em nome dos morretenses, e seu discurso consta do livro “Tenho dito : Morretes e morretenses nos discursos de Marcos Luiz De Bona”.