quarta-feira, 18 de maio de 2016

Canção do expedicionário

  
A Canção do Expedicionário escrita em 1944 pelo poeta Guilherme de Almeida, musicada por Spartaco Rossi é uma belíssima homenagem aos pracinhas brasileiros que lutaram na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. 
É considerada o verdadeiro Hino da Força Expedicionária Brasileira e com emoção vemos em cada verso o retrato das nossas belezas naturais, nossa cultura e nossa pátria.


Você sabe de onde eu venho ?
Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Praça do Expedicionário - Rio de Janeiro
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais,
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal. 

Por mais terras que eu percorra...
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do meu sertão;
Venho da minha Maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão,
Brasileiros pisam em solo europeu
Em primeiro plano o 1º ten. R-2 Thomaz W. Iwersen
Braços mornos de Moema
Lábios de mel de Iracema
Estendidos para mim.
Ó minha terra querida
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!

Por mais terras que eu percorra...

Você sabe de onde eu venho ?
E de uma Pátria que eu tenho
No bôjo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreno,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacaranda,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.

Por mais terras que eu percorra...

Venho do além desse monte
Que ainda azula o horizonte,
Onde o nosso amor nasceu;
Museu e Praça do Expedicionário - Curitiba - PR
Do rancho que tinha ao lado
Um coqueiro que, coitado,
De saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
Do mais dourado amarelo,    
Do azul mais cheio de luz,
Cheio de estrelas prateadas
Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da Cruz !

Por mais terras que eu percorra...



quarta-feira, 11 de maio de 2016

Dia da vitória

Discurso pronunciado em comemoração ao
final da Segunda Guerra Mundial,
em 8 de maio de 1945

Morretenses!
O Dia da Vitória chegou! A emoção é grande! O contentamento indescritível! Traduzir em palavras o que sentimos é impossível. Tentaremos, pois, apenas nos aproximar do grau de sentimento de cada brasileiro, de cada cidadão das Nações Unidas no dia de hoje.
O dia 8 de maio ficará na História como o Grande Dia. Ele encerrou um período negro da humanidade, período de quase seis anos, longos e terríveis! Será uma data jubilosa pela integral Vitória da causa da liberdade e da justiça. Será uma data da saudade, pela memória daqueles que tombaram no cumprimento do dever.
Morretes não quis e não poderia mesmo fugir ao imperativo de sua força cívica e patriótica. Por isso não se reúne o nosso povo para odiar. Não se reúne para desejar mal àqueles que o praticaram. Reúne-se, sim, para se abraçar com os salvadores da humanidade, para esquecer as loucuras e as ambições que levaram o mundo a esta guerra. Reúne-se, enfim, para desejar a Paz feliz e longa, a Paz construtiva, a Paz que acenda uma nova aurora para a humanidade.
Morretes já se manifestou, em agosto de 1942, realizando o enterro simbólico dos ditadores nazi-facistas, em desagravo das ofensas recebidas com o afundamento dos nossos navios que viajavam pacificamente em águas nacionais. Naquele dia explodiu em nosso povo o incontido sentimento de revolta pelas duzentas e oitenta inocentes vítimas do torpedeamento do Baependi. Pelos cento e quarenta e três náufragos do Anibal Benévolo. Pelos cento e trinta brasileiros, entre tripulantes, mulheres e crianças, que morreram no traiçoeiro golpe lançado contra o barco Araraquara.
Naquele dia, sim, desejamos a guerra, desejamos enfrentar todos os horrores dessa coisa terrível que é destruir e matar, que é sacrificar milhões de criaturas, que é sangue, suor, pranto, miséria, sofrimentos infinitos, angústias intraduzíveis.
E o nosso governo soube interpretar o sentimento e os desejos do povo. Enviando para a Itália a heróica Força Expedicionária Brasileira, preservou a honra nacional, colocando o Brasil em lugar de destaque entre as Nações Unidas, portanto, elevando o nosso prestígio no mundo civilizado e assegurando-nos uma atuação importante na Conferência da Paz.
Morretes também atendeu prontamente ao chamado da Pátria. Filhos da nossa querida terra também foram de arma em punho, em defesa da grande causa enfrentar os rigores da luta e do clima na Península Itálica. Esses heróis que em breve regressarão aos seus lares, merecem imensa gratidão e são dignos de figurar entre os que contribuíram de forma decisiva para a Vitória que hoje comemoramos.
Afonso Bridarolli, Avelino Cordeiro, Batista Vieira, Benigno Pinto Filho, Braz Ribeiro, Casemiro Inácio Mazur, Douglas Negrão, Edgar Pereira, Ernesto de Oliveira (Catarina), Eurides da Cruz, Francisco Ribeiro, Humberto Brites, Hurbano Ribeiro Filho, Jofre Moris da Costa, Laudemiro Ribeiro, Laudinor Bornancim, Laudinor Gonçalves, Olavo Francisco Rebello, Pedro Costa, Pedro Scucato, Pedro Trevisan, Santino Martins, Teodoro Romão de Paula, Tomaz Nunes e Turíbio Assunção são os Morretenses integrantes da Força Expedicionária Brasileira que, com a graça de Deus, breve receberemos em nosso torrão, e a eles saberemos tributar as homenagens cujos direitos com suor e sangue conquistaram.
Mães Morretenses! Fazemos uma pálida idéia do vosso júbilo, da emoção que vos vai à alma, das lágrimas que brotaram em vossos olhos, ao recebimento das primeiras notícias da cessação da luta. Como que as vemos em orações, rogando à Virgem pela volta dos seus entes queridos, quando ainda era incerto seu regresso. Como que as vemos hoje, ainda orando, em orações fervorosas de graças pelo advento da Paz, da concórdia, da solidariedade humana, voltando tudo a possuir a beleza dos dias claros, de trabalho e harmonia, e a das noites calmas sob a constelação do Cruzeiro do Sul.
Brasileiros!
Atentai bem para o momento histórico que vivemos. Atentai bem para a transição que se opera no mundo. Esse momento deverá ficar para sempre gravado em vossa memória. Vossos filhos pedirão detalhes destes instantes, quando a história tiver desvendado todos os mistérios, antecedentes, causas, homens, e coisas desta Segunda Grande Guerra Mundial e a primeira em que o Brasil participa ativamente no continente europeu, enviando forças regulares. Portanto, não olvideis a emoção que agita o mundo, porque é o início de uma nova era, a era da liberdade e da justiça. Pela grande alegria que nos empolga, pela grandeza do Brasil, pela felicidade dos seus filhos.,

VIVA O BRASIL!

Pedroca Scucatto

Pedro Trevisan

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Carta para Theodoro II

continua...mais alguns trechos da carta de                                            Marcos para Theodoro

Morretes, 28 de julho de 1934.

Theodoro De Bona
Caro Theodoro.

Lemos com atenção as tuas considerações sobre a tua estada na Itália. De fato você tem sido um sacrificado pela tua arte, um verdadeiro apóstolo. Os sucessos de hoje são uma justa recompensa do teu esforço. Quando eu conto aqui para alguém que me interpela a teu respeito, que você nunca teve uma namorada, que viveu sempre afastado dos prazeres mundanos, que engarrafou cachaça em Curitiba para sustentar tua arte é que a tua figura torna-se mais digna de admiração. É interessante que neste meio pequeno que é Morretes há pessoas que têm a Europa como uma terra muito distante, lendária, e não raro fazem perguntas engraçadas como: você conhece esse teu irmão? ...Ele, quando vier aqui para o Brasil, não vem morar aqui em Morretes, não é?  E é assim.
Outros mais letrados, que têm o mundo nas mãos pelo rádio e telégrafo, já falam da tua estada aí como coisa natural. O fato é que todos desejam te rever, principalmente a velha Maria Buzzata que sempre recorda a tua alegria no casamento da Thereza com o falecido Antoninho. Diz que você tem uma voz como poucos.
(...)
Temos um jornal em Curitiba – O Correio do Paraná – dirigido pelo jornalista sírio Paulo Tacla, que é um monte de injúrias contra o atual regime. Lendo-o, você não voltaria mais ao Brasil. Mas a maior parte é despeito, porque ele ainda não foi convidado para um cargo rendoso. Se o fosse por certo calaria. Mesmo assim sempre diz verdades que calham na imaginação pública. Por exemplo, o subsídio do Presidente da República, que na República Velha era de 20 contos mensais, tendo sido pelo governo provisório reduzido para 10, foi agora na formação da Carta Constitucional aumentado novamente para 20. Esse foi um motivo para uma manchete sensacional do Correio e que teve a aprovação do povo em geral. 
(...)
Temos uma pracinha agora. O interventor Manoel Ribas está no propósito de montar aqui uma grande usina de açúcar, por conta do governo. Se isto acontecer será um grande passo. A nossa fábrica de papel, que há seis meses estava parada, entrou agora em franca atividade, tendo sido adquirida por uma firma do Rio. (...)
Marcos Luiz De Bona

A carta na integra pode ser lida no livro:
Tenho Dito: Morretes e Morretenses nos discursos de MLB