Discurso proferido em 26 de agosto de 1954,
por ocasião do falecimento
É sob a mais profunda emoção que tomamos da palavra para manifestar o sentimento que nos vai n'alma pelo desaparecimento do Exmo. Sr. Presidente da República Brasileira, Sr. Dr. Getúlio Dorneles Vargas.
O extinto grande Presidente foi, sob inúmeros aspectos, a figura mais destacada da República. Já havia sido Ministro da Fazenda, Deputado e Governador do seu Estado natal, Rio Grande do Sul, quando pela primeira vez ouvimos falar do seu nome. É que, sendo nós adolescentes, no período anterior a 1930, não nos chegavam aos ouvidos o nome e as atividades patrióticas do cidadão que se iniciava em carreira brilhante, destinada a figurar em relevo na História do Brasil.
Foi exatamente na manhã de 3 de outubro de 1930, que estando na estação ferroviária de Morretes, para acompanhar uma delegação esportiva que se dirigia à cidade da Lapa, ouvimos falar no nome de Getúlio Vargas, por ter sido retardada a partida do trem em consequência da deflagração de uma revolução chefiada pelo mesmo. Daí por diante a nossa mocidade foi se desenvolvendo sob o influxo do chefe da revolução, do chefe do Governo Provisório, do presidente constitucional, do Chefe do Estado Novo, do senador e novamente do presidente constitucional, nessa sequência admirável, que só o tempo poderá julgar e que a história registrará como um dos períodos altos da vida da nossa Pátria. Foi por essa razão que nos acostumamos a admirar a obra do grande presidente, embora combatendo o bom combate no terreno das idéias políticas, com lealdade, de modo democrático.
Se nos perguntarem quais as realizações do Presidente Vargas mais admiramos, diremos que foi no terreno social que sua ação se fez sentir de modo mais evidente, sendo extraordinários os benefícios advindos da instituição da Previdência Social. Na área econômica, diremos que a fundação da indústria pesada, como Volta Redonda e outras, aliadas à organização da Petrobras e Eletrobras, que visam à independência econômica do Brasil.
Nos negócios exteriores, louvamos a política de boa vizinhança e a participação do nosso Brasil na Segunda Grande Guerra Mundial, quando o governo de Getúlio Vargas soube responder à altura a afronta à soberania nacional, ao serem afundados em nossa costa pacíficos navios cargueiros, perecendo tripulações inocentes.
Homem de extraordinária inteligência, de tino administrativo e, sobretudo, político sagaz, o grande extinto conseguiu soluções favoráveis para os mais complexos problemas, em situações as mais delicadas da vida nacional.
A sua popularidade jamais foi atingida por qualquer outro homem público do Brasil. A maneira pela qual foi reconduzido ao poder no ano de 1950 foi consagradora. Cometeu erros, porque errar é humano, e porque nem sempre de sua vontade emanaram determinados atos que deram ensejo ao pronunciamento das Forças Armadas Brasileiras.
Mas uma coisa ficou definitivamente positivada: foi o sentimento de brasilidade, a honra, o amor às classes mais humildes, que o grande Getúlio Vargas pôs em evidência, culminando com o sacrifício de sua própria vida.
A notícia de sua morte, de modo tão trágico, chocou profundamente o coração de todos os brasileiros.
Tivemos uma penosa sensação na manhã de terça-feira. Um amigo nos deu a notícia em primeira mão. A nossa emoção foi grande, mas ainda acreditávamos pudesse vir um desmentido. Poucos instantes após, um grupo de crianças, que na sua incompreensão e inocência saía alegre do grupo escolar ao lado, por terem sido suspensas as aulas, trouxe-nos a triste confirmação da grande tragédia que, na Capital da República, acabava de abalar toda a nação.
Elevemos nossas preces a Deus todo-poderoso, pelo descanso em paz, no seio do Senhor, da alma do grande brasileiro. Peçamos à Santíssima Virgem, padroeira dos aflitos, pelo consolo e conforto da digníssima família enlutada. Roguemos aos céus, pela manutenção da Paz, da Ordem e do Progresso no seio do povo de nossa Pátria.
Doutor Getúlio Dorneles Vargas..., é verdade o que escrevestes! ... saístes da vida... entrastes para a história!
Tenho dito.
* Discurso publicado na pg. 81 do livro Tenho dito