A Morretes
De colinas rodeada
Pelo Marumbi guardada,
Morretes sorrindo viça;
Do Nhundiaquara é ela
A caboclinha singela,
Que enleia, prende, enfeitiça.
Vasta verdura é seu manto
Perfumado pelo encanto
Das flores, dos laranjais:
Vergando, se sopra o vento,
Murmuram, como um lamento,
Extensos canaviais.
Em seu solo, em fumo espesso,
Corre o motor do progresso,
A par da eletricidade:
Labutam todos os anos,
Caboclos italianos,
Buscando prosperidade.
Na partilha a natureza
Deu-te frutos, flor, beleza,
Caráter firme, bem raro,
Deu-te filhos de talento,
Luzeiros do pensamento,
Pombo, Moraes, Netto, Amaro.
Astro já foste fulgante
Desse comércio imponente
De tempos que já lá vão,
Quando no rio as canoas
Erguiam pesadas proas,
Trazia a tropa o surrão.
Barreiros, lá sem conforto
Solitário de seu porto
Sem ter mais navegação;
Do velho pequeno hiato
Que vinha carregar mate
Resta só recordação.
Da "vergonha" a cachoeira,
Que dava tanta canseira
Tristonha, chorosa, está;
Recordando o dia inteiro,
As lutas do canoeiro
As glórias extintas já.
Mas se tu não tens agora
O movimento de outrora,
Repleto de tantos brilhos,
Tem o teu fasto arquivado,
O teu nome bem gravado
No coração dos teus filhos.
Joaquim Serapião do Nascimento - 1953