Discurso pronunciado em comemoração ao
final da Segunda Guerra Mundial,
em 8 de maio de 1945
Morretenses!
O Dia da Vitória chegou! A emoção é grande! O contentamento
indescritível! Traduzir em palavras o que sentimos é impossível. Tentaremos,
pois, apenas nos aproximar do grau de sentimento de cada brasileiro, de cada
cidadão das Nações Unidas no dia de hoje.
O dia 8 de maio ficará na História como o Grande Dia. Ele encerrou um
período negro da humanidade, período de quase seis anos, longos e terríveis!
Será uma data jubilosa pela integral Vitória da causa da liberdade e da
justiça. Será uma data da saudade, pela memória daqueles que tombaram no cumprimento
do dever.
Morretes não quis e não poderia mesmo fugir ao imperativo de sua força
cívica e patriótica. Por isso não se reúne o nosso povo para odiar. Não se
reúne para desejar mal àqueles que o praticaram. Reúne-se, sim, para se abraçar
com os salvadores da humanidade, para esquecer as loucuras e as ambições que levaram
o mundo a esta guerra. Reúne-se, enfim, para desejar a Paz feliz e longa, a Paz
construtiva, a Paz que acenda uma nova aurora para a humanidade.
Morretes já se manifestou, em agosto de 1942, realizando o enterro
simbólico dos ditadores nazi-facistas, em desagravo das ofensas recebidas com o
afundamento dos nossos navios que viajavam pacificamente em águas nacionais.
Naquele dia explodiu em nosso povo o incontido sentimento de revolta pelas
duzentas e oitenta inocentes vítimas do torpedeamento do Baependi. Pelos cento e quarenta e três náufragos do Anibal Benévolo. Pelos cento e trinta
brasileiros, entre tripulantes, mulheres e crianças, que morreram no traiçoeiro
golpe lançado contra o barco Araraquara.
Naquele dia, sim, desejamos a guerra, desejamos enfrentar todos os
horrores dessa coisa terrível que é destruir e matar, que é sacrificar milhões
de criaturas, que é sangue, suor, pranto, miséria, sofrimentos infinitos,
angústias intraduzíveis.
E o nosso governo soube interpretar o sentimento e os desejos do povo.
Enviando para a Itália a heróica Força Expedicionária Brasileira, preservou a
honra nacional, colocando o Brasil em lugar de destaque entre as Nações Unidas,
portanto, elevando o nosso prestígio no mundo civilizado e assegurando-nos uma
atuação importante na Conferência da Paz.
Morretes também atendeu prontamente ao chamado da Pátria. Filhos da nossa
querida terra também foram de arma em punho, em defesa da grande causa
enfrentar os rigores da luta e do clima na Península Itálica. Esses heróis que em
breve regressarão aos seus lares, merecem imensa gratidão e são dignos de
figurar entre os que contribuíram de forma decisiva para a Vitória que hoje
comemoramos.
Afonso Bridarolli, Avelino Cordeiro, Batista Vieira, Benigno Pinto
Filho, Braz Ribeiro, Casemiro Inácio Mazur, Douglas Negrão, Edgar Pereira,
Ernesto de Oliveira (Catarina), Eurides da Cruz, Francisco Ribeiro, Humberto
Brites, Hurbano Ribeiro Filho, Jofre Moris da Costa, Laudemiro Ribeiro,
Laudinor Bornancim, Laudinor Gonçalves, Olavo Francisco Rebello, Pedro Costa,
Pedro Scucato, Pedro Trevisan, Santino Martins, Teodoro Romão de Paula, Tomaz
Nunes e Turíbio Assunção são os Morretenses integrantes da Força Expedicionária
Brasileira que, com a graça de Deus, breve receberemos em nosso torrão, e a
eles saberemos tributar as homenagens cujos direitos com suor e sangue conquistaram.
Mães Morretenses! Fazemos uma pálida idéia do vosso júbilo, da emoção
que vos vai à alma, das lágrimas que brotaram em vossos olhos, ao recebimento
das primeiras notícias da cessação da luta. Como que as vemos em orações,
rogando à Virgem pela volta dos seus entes queridos, quando ainda era incerto
seu regresso. Como que as vemos hoje, ainda orando, em orações fervorosas de
graças pelo advento da Paz, da concórdia, da solidariedade humana, voltando tudo
a possuir a beleza dos dias claros, de trabalho e harmonia, e a das noites
calmas sob a constelação do Cruzeiro do Sul.
Brasileiros!
Atentai bem para o momento histórico que vivemos. Atentai bem para a
transição que se opera no mundo. Esse momento deverá ficar para sempre gravado
em vossa memória. Vossos filhos pedirão detalhes destes instantes, quando a
história tiver desvendado todos os mistérios, antecedentes, causas, homens, e
coisas desta Segunda Grande Guerra Mundial e a primeira em que o Brasil
participa ativamente no continente europeu, enviando forças regulares. Portanto,
não olvideis a emoção que agita o mundo, porque é o início de uma nova era, a
era da liberdade e da justiça. Pela grande alegria que nos empolga, pela
grandeza do Brasil, pela felicidade dos seus filhos.,
VIVA O BRASIL!
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Pedroca Scucatto |
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Pedro Trevisan |