Theodoro De Bona, além de pintor, como todo artista, possuía também um pouco de poeta e narrou essa história como se fosse sua filha contando o caso. Ele deu o título de Amor materno e foi publicada no jornal Gazeta do Povo, no caderno G, em 16 de maio de 1997. Vale a pena ler...
Uma passagem interessante e até emocionante, aconteceu no Rio de Janeiro quando ali residia, e sua filha Gioconda encontrou 2 filhotes de passarinhos que haviam caído do ninho materno, num abacateiro, na ladeira da Rua Icatú, em Botafogo.
Amor materno
Ia eu subindo a ladeira de Icatu, distraída e contente por mais uma aula terminada no curso primário do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Botafogo.
O sol descendo atrás da montanha do Corcovado deixava a ladeira em sombra que se alongava cada vez mais, até mergulhar na baia de Botafogo. A ladeira de Icatu tinha forma de espiral e minha casa ficava no alto, podendo dela avistar toda essa espiral da subida.
No jardim da minha casa, meu pai havia plantado um caroço de abacate que em poucos anos tornou-se uma frondosa árvore, na qual os pássaros faziam seus ninhos.
Naquela tarde, certamente um dos ninhos de “rolinhas” existentes no abacateiro tinha caído, e dois filhotes ainda sem penas estavam se arrastando pela calçada em frente à minha casa. Peguei-os e mostrei aos meus pais. Meu pai, embora não censurando meu ato, advertiu-me que os filhotes não poderiam se criar por falta dos cuidados da mãe. Todavia o conselho dele fez o que nós humanos poderíamos ter feito – tentar salvar a vida dos “bebezinhos”. Improvisamos um ninho de algodão, pusemos um pires com água e algumas ervas ao alcance dos bicos dos filhotes. Apesar de todos estes cuidados, no dia seguinte um deles havia morrido e eu choramingava pela vida do segundo. Dobrei meus cuidados procurando por água no seu biquinho com conta gotas. Mas qual não foi a minha satisfação quando meu pai notou que havia uma rolinha dando voltas ao redor da nossa casa piando continuadamente.
Concluímos que deveria ser a mãe dos filhotinhos. Imediatamente colocamos o ninho improvisado na varanda da casa e fechamos a porta de vidro que dava para uma área. Então pudemos constatar a força do amor materno mesmo entre pássaros: a alegria da mãe quando encontrou o filho, os saltos de alegria em volta dele, as carícias e os beijos que se davam!
Feitas as manifestações de grande contentamento a “rolinha mãe” voou para fora para voltar pouco depois, trazendo no bico alimento para seu filho. Por cinco ou seis dias presenciamos contínuos cuidados da “rolinha mãe”, que do clarear do dia ao anoitecer voltava cada hora com alimento para o filho.
Ninguém entrava na área e tudo observávamos através da vidraça da porta fechada.
Mas aconteceu o que prevíamos. O filhote criou forças e penas nesses cinco dias e fazia seus saltos cada vez maiores na área da varanda. Num deles, alcançou o parapeito, que na parte dos fundos era mais alto! Não tive dúvidas, e preocupada que ele caísse e se espatifasse lá embaixo, abri a porta de mansinho e tentei pegá-lo. Ele, porém, sentindo a minha presença deu um salto e foi se apoiar no telhado da casa de baixo.
No outro lado da rua havia uma grande árvore mais baixa que a casa, pois como disse a ladeira de Icatu tem forma espiral em ascendência. E na árvore se encontrava a mãe piando, certamente preocupada com a imprudência do filho. Piando, chorando ou chamando, não sei, mas o fato é que continuava olhando para o filho. Este piando também esboçava um voo de grande audácia! Observávamos tudo do alto da nossa varanda sem nada poder fazer pelas muitas tentativas prolongadas do filhote. Passaram-se minutos, que para mim representaram horas, até que enfim, ele, reunindo todas as suas forças e sua coragem, arrancou voo para chegar junto da mãe que continuava chamando-o e pedindo prudência. O filhote foi perdendo altura, mas avançando sempre, até alcançar a árvore num ramo bem mais baixo daquele em que estava pousada sua mãe.
Havia conquistado a vitória da partida para a sua vida!
De um salto a mãe alcançou o filho e os dois desapareceram entre as folhagens da floresta.
Ia eu subindo a ladeira de Icatu, distraída e contente por mais uma aula terminada no curso primário do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Botafogo.
O sol descendo atrás da montanha do Corcovado deixava a ladeira em sombra que se alongava cada vez mais, até mergulhar na baia de Botafogo. A ladeira de Icatu tinha forma de espiral e minha casa ficava no alto, podendo dela avistar toda essa espiral da subida.
No jardim da minha casa, meu pai havia plantado um caroço de abacate que em poucos anos tornou-se uma frondosa árvore, na qual os pássaros faziam seus ninhos.
Naquela tarde, certamente um dos ninhos de “rolinhas” existentes no abacateiro tinha caído, e dois filhotes ainda sem penas estavam se arrastando pela calçada em frente à minha casa. Peguei-os e mostrei aos meus pais. Meu pai, embora não censurando meu ato, advertiu-me que os filhotes não poderiam se criar por falta dos cuidados da mãe. Todavia o conselho dele fez o que nós humanos poderíamos ter feito – tentar salvar a vida dos “bebezinhos”. Improvisamos um ninho de algodão, pusemos um pires com água e algumas ervas ao alcance dos bicos dos filhotes. Apesar de todos estes cuidados, no dia seguinte um deles havia morrido e eu choramingava pela vida do segundo. Dobrei meus cuidados procurando por água no seu biquinho com conta gotas. Mas qual não foi a minha satisfação quando meu pai notou que havia uma rolinha dando voltas ao redor da nossa casa piando continuadamente.
Concluímos que deveria ser a mãe dos filhotinhos. Imediatamente colocamos o ninho improvisado na varanda da casa e fechamos a porta de vidro que dava para uma área. Então pudemos constatar a força do amor materno mesmo entre pássaros: a alegria da mãe quando encontrou o filho, os saltos de alegria em volta dele, as carícias e os beijos que se davam!
Feitas as manifestações de grande contentamento a “rolinha mãe” voou para fora para voltar pouco depois, trazendo no bico alimento para seu filho. Por cinco ou seis dias presenciamos contínuos cuidados da “rolinha mãe”, que do clarear do dia ao anoitecer voltava cada hora com alimento para o filho.
Ninguém entrava na área e tudo observávamos através da vidraça da porta fechada.
Mas aconteceu o que prevíamos. O filhote criou forças e penas nesses cinco dias e fazia seus saltos cada vez maiores na área da varanda. Num deles, alcançou o parapeito, que na parte dos fundos era mais alto! Não tive dúvidas, e preocupada que ele caísse e se espatifasse lá embaixo, abri a porta de mansinho e tentei pegá-lo. Ele, porém, sentindo a minha presença deu um salto e foi se apoiar no telhado da casa de baixo.
No outro lado da rua havia uma grande árvore mais baixa que a casa, pois como disse a ladeira de Icatu tem forma espiral em ascendência. E na árvore se encontrava a mãe piando, certamente preocupada com a imprudência do filho. Piando, chorando ou chamando, não sei, mas o fato é que continuava olhando para o filho. Este piando também esboçava um voo de grande audácia! Observávamos tudo do alto da nossa varanda sem nada poder fazer pelas muitas tentativas prolongadas do filhote. Passaram-se minutos, que para mim representaram horas, até que enfim, ele, reunindo todas as suas forças e sua coragem, arrancou voo para chegar junto da mãe que continuava chamando-o e pedindo prudência. O filhote foi perdendo altura, mas avançando sempre, até alcançar a árvore num ramo bem mais baixo daquele em que estava pousada sua mãe.
Havia conquistado a vitória da partida para a sua vida!
De um salto a mãe alcançou o filho e os dois desapareceram entre as folhagens da floresta.
Além de artigos para jornais e revistas escreveu Curitiba - Pequena Montparnasse, livro publicado em 1982, excelente obra onde relata fatos inéditos e curiosos que marcaram sua vida. Pleno de qualidades éticas como homem/pintor seus depoimentos mostram a responsabilidade dele para com a sociedade. Participou do grupo que plantou as bases do movimento artístico pictórico no Paraná e sempre procurou resgatar a memória daqueles que lutaram por um ideal artístico.
De Bona em seu ateliê
De Bona em Morretes
Lendo este lindo texto de Theodoro uma pessoa que tive o prazer de conhecer e poder admirar o seu trabalho.
ResponderExcluirLigia muito bom você reviver a memoria de seu tio.
Abraços Odaleia.
Que saudades!!!Eles são inesquecíveis,não temos nem palavras para homenageá-los, ficamos então revivendo suas memórias, até o dia em que estaremos juntos pela eternidade.
ResponderExcluirMais uma vez: PARABÉNS!
ResponderExcluirLogo, logo, teremos praticamente um livro.
Saudações Morretenses
Éric Hunzicker