quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Librando o acendedor de lampeões*

É difícil pensarmos em Morretes no fim do século XIX, com lampiões iluminando as ruas, acesos pelo cabloco Librando. Leiam o texto e imaginem a cena. 

Librando, um cabloco guapo e forte, alegre e boêmio, era o acendedor dos lampeões das ruas de Morretes, já pelos anos de 1895 e 1896. Dizia-se, que antes dessa missão, fora Librando caixeiro do armazem do seu Caetano Babão, cuja especialidade era a venda de lampeões, castiçais, mangas de vidro, pavios e querosene; e mais, bacias-banheiro, urinóis, secção de quinquilharias, etc. Também lá se vendiam remédios a jalapa (...) E, se procuravam urinóis, seu Caetano respondia que tinha de todos os tamanhos, mas que era preciso trazer as medidas... Espírito e graciosidade de antanho.
Librando era também cantador e tocador de viola. Nascera lá na encosta do poético Anhaia, no sítio do Sarapiá, caminho de Barreiros, antigo porto marítimo com armazem de aduana e fiscalização.
Morava do outro lado do "Nhundiaquara gentil"... o rio-amor do glorificado poeta Juca Moraes, quando nem se pensava em ponte de ligação.
A tardinha, com bom ou mau tempo, velejava Librando, ao "xoa" do rêmo na sua canôa de  "guadiruvú", cigarrinho de palha à boca, rumo às cotidianas obrigações cantando:

Nhundiaquara, rio corrente
que desliza para o mar;
na canôa nem se sente
o barulho do mar...

Quando ao outro lado passar,
- rio querido, rio amor;
ouças meu rêmo cantar
- rema, rema remador.

P'ra Morretes dar confôrto,
Quando acende o lampeões;
à Nossa Senhora do Porto
Librando faz-lhe oração...

Ninguém sabe acreditamos sejam dêle ou de alguém, essas rimas cablocas. Seja como for, simples embora, revelam inspiração.
Librando foi feliz. Vivia cantando. Se teve dores, sabia disfarçá-las. Boêmio, dava-se com todos. Gostava de "matar o bicho" num traguinho no armazem do Maneco Maria (...)
Finalizado o seu mister, que às vêzes amanhecia, ia tomar café e fazer compras para as venerandas morretenses: Nhá Euristela e Nhá Isabel Massaneiro, para a casa do "seu" João Negrão e para o sr. Camargo, chefe da agência telegráfica, que então era a Central do Paraná (...) 

*Artigo do sr. Octávio Secundino, publicado no jornal
O Estado do Paraná, em 23 de dezembro de 1955.

5 comentários:

  1. Ligia só Tio Marquinhos,para quardar por 56anos essa relíquia e vc com muito carinho postou para que conhecessemos a história do Librando muito legal...
    Parabéns prima te amo.
    Zelinda.

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  2. Olá Lígia, belas lembranças. Vale a pena relembrar e fazer os mais novos terem contato com a realidade daquela época. Acredito que os mais jovens nem sabem o que era um lampião – os mais espertinhos vão ligar de imediato ao Rei do Cangaço.
    Bjs
    Foltran, o belo!!

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  3. Não sou daquele tempo (que pena) mas sinto-me como se fosse. E posso emprestar da compositora Zica a sua valsinha (de 1957:
    "LAMPIÃO DE GÁS, LAMPIÃO DE GÁS, QUANTAS SAUDADES VOCÊ ME TRÁS ..."
    Abraços
    Diac. Narelvi

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  4. Ligia
    Muito interessante. Adorei.
    Beijos
    Leila

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  5. Ligia, me liguei no seu blog, muito legal.
    Esta historia real não conhecia.
    Só a historia do lampião e Maria Bonita...
    Abçs DILBERTO

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