Onde as flores? Perguntou um forasteiro
caçoísta ao passar pela Rua das Flores.
Escutando-o um curitibano pertinaz se
apressou na resposta: Para vê-las é preciso ter sensibilidade. Olhe só, LÍRIOS na pureza do transbordamento artístico dessas
crianças, pintando em papel estirado na calçada. Repare as ANGÉLICAS
que vicejam na ingenuidade da meninada que fica brincando de aprender no
bondinho parado, enquanto as mães, nas lojas fazem bisbilhotices.
Veja essas GLICÍNIAS caindo em cachos de
nostalgia, no beiral das sanfonas dos ceguinhos que enchem de alegria os ares
em poluição. E que tal essas ROSAS a enfeitarem os lábios das mocinhas que
espalham sorrisos de gentileza?
Ó... HORTÊNCIAS , rechonchudas, no cadenciar dos
passos apressados das velhotas afoitas. Aprecie as AÇUCENAS do semblante feliz
dos casais a passearem em idílios que ninguém mais liga.
Flores de CACTO espinhento são cultivadas
nos bolsos dos homens de negócios, a correrem de Banco em Banco, esperançosos
de que lhes seja conseguido um BOTÃO DE OURO,
ou pelo menos algum COPO DE
LEITE.
E as MARGARIDAS...coitadas! Transvertidas
em gente, às portas das casas de disco, embaladas pelas brisas musicais ficam a
requebrar, confundindo-se com a bicharada que infesta o jardim.
CAMÉLIAS
se apresentam na altivez de gente bem, que só olha para VIOLETA DOS ALPES, por ser flor
estrangeira e de estufa. ABSINTOS estão na tristeza dos solitários que
buscam ALECRIM para o coração ficar feliz.
LÍRIOS-DO-BREJO sobejam nos cartazes
escandalosos das bancas de revistas, anunciando ainda PAPOULAS de viço chocante. Mas, olhe
ali o AMOR-PERFEITO
dos casais de velhinhos que cambaleantes, mas seguros nos bons princípios,
procuram recordar o tempo de namorados voltando ao local de flert discreto, hoje substituído pela paquera imoderada.
Há também no jardim da cidade flor que não
se cheira... São as SEMPRE-VIVAS, que
se exibem suscitando gracejos de CRISTA-DO-GALO, ou de algum GIRASSOL
desocupado.
Os CRISÂNTEMOS
amarelos estão nas cabeleiras de nylon,
tendo por vezes, como complemento BRINCO-DE-MULATA
a experimentar a volúpia de um LOURO-AÇO indisfarçável.
Os GOIVOS
ROXOS florejam
nas lamúrias dos saudosistas sentados nos bancos, vendo a SAUDADE passar.
Tem mais... ORQUÍDEAS
parasitando cafezinhos dos amigos que nem lembram mais de tal amizade. BOCA-DE-LEÃO
aos montões, bem lá no final de tão esplendoroso jardim, mastigando os frangos do futebol que passou, os pratos do dia da política, a sobremesa de qualquer um...e são tantas
que chegam a formar um ramalhete singular: BOCA MALDITA.
Só o curitibano consegue ver e entender
essas flores humanas da
RUA DAS FLORES
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