Lavoura de cana de açúcar |
O ciclo da cana de açúcar no norte do país, isto é, na zona nordestina, gerou idílios e romances, crimes e lendas.
A sua presença - da cana de açúcar - principalmente na Paraíba e Pernambuco foi atuante e ainda se faz sentir, tanto no terreno econômico como no âmbito social tem originado até quistos políticos.
A vida nos canaviais, na igreja e nos concílios de família, tem sido descrita em prosa e verso, transformou-se em grossos volumes, que, honrando a arte de Guttenberg, imortalizaram muitos escritores, haja vista o apreciado e célebre "Menino do engenho" já transposto para o celuloide.
É verdade que esse ciclo evoluiu e a lavoura da cana de açúcar deixou de pertencer ao nordeste; ela tomou o rumo de São Paulo e, posteriormente, adentrou o território paranaense, cujas terras, no setentrião e mesmo no chamado norte pioneiro, se assemelham às daquele importante Estado.
No litoral do Paraná, também é uma plantação antiga e já ali existe uma usina de álcool e açúcar, sediada em Morretes, município que tem nesta lavoura, um dos esteios de sua sobrevivência.
Lá a lavoura canavieira aglutinou gerações e criou raízes profundas no tempo e no espaço. Basta citar os Malucelli, os Scucatto, os Gnatta, os De Bona, os Dalcuqui, os Polidoro, os Freitas, os Sanson.
Em Antonina labutaram no ramo; Henrique Dutra, Bernardo Moreira, os Túlio e outros.
A cana de açúcar propaga-se por meio de sementes, porém, em termos de cultura, emprega-se a multiplicação em roças feitas com a própria espécie, mediante o côlmo (caule) correspondente a um gomo, plantado em terreno adequado.
É um vegetal de folhas compridas e ásperas, de casca lisa e dura: a sua difusão exige clima quente e muita umidade. As socas, bem cuidadas, se transformam em novos canaviais, eis que a brota é nativa (natural).
Seu principal produto o açúcar, é alimento indispensável, universal, porque comanda todas as mesas e, por sua vez, fornece a matéria prima necessária à produção do álcool, da aguardente, do melado, da rapadura, etc
Aguardente |
Por falar em rapadura: os mineiros, seguindo costumes tradicionais, fazem da rapadura um sucedânio do açúcar. No mercado de Belo Horizonte a venda do produto representa um caso singular: os molhos da rapadura são expostos em pilhas enormes e ocupam vários metros quadrados dos stands. Como se vê o hábito não se restringe as zonas rurais sendo extensivos aos citadinos.
E voltando ao açúcar: na dietética ele figura como um dos alimentos de maior teor calorífico. No uso caseiro garante a feitura de quitutes, remédios e estimulantes. O caldo de cana, que a gíria batizou como "garapa" é um refrigerante hiper glicose.
Em decorrência do progresso técnico já há algum tempo bagaço da cana vem sendo utilizado na produção do papel, existindo em território paulista a maior fábrica do gênero.
Roda d'água |
Por outro lado, o trabalho mecânico inerente às grandes usinas veio a absorver, quase por completo, a produção das pequenas fábricas, dos modestos engenhos acionados na base da roda d'água, senão com suas moendas puxadas por velhos muares. E, com isso a poesia dos alambiques vai desaparecendo. Contudo, pela uniformidade das touceiras e a predominância das suas folhas verdes, o canavial é uma festa para os olhos, proclama o poder miraculoso da natureza.
Curitiba, dezembro de 1966
MIRUCO
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