quarta-feira, 26 de abril de 2017

O ideal de servir, por Marcos Luiz De Bona

O ideal de servir*




Onde com mais intensidade vivemos quando possuídos do ideal de servir? Nas grandes cidades ou nos lugares pequenos, geralmente pobres?
Eis uma pergunta que não é difícil responder, visto que nas cidades pequenas – é evidente – mais se faz necessária a assistência ao próximo e mesmo a mútua assistência.
Dirão outros que nos grandes centros afluem necessitados de todas as regiões, com penoso acesso e permanência, a procura de alimentos, medicamentos e trabalho, fugindo de situações desfavoráveis, muitas vezes insuportáveis, ingressando em sua maioria em bairros pobres, outros concorrendo para a formação de míseras favelas, que se tornam campo propício à aplicação da assistência social, quando da iniciativa do governo, e do desvelo de piedosas senhoras, ou de sociedades beneficentes, quando da iniciativa particular.
Todavia, não há nessa atividade meritória nas grandes cidades, o reconhecimento pessoal. Trata-se de amparar não a pessoa ou a família, mas sim o grupo, num sentido mais coletivo. Entram os recursos do Estado, dando a impressão aos que são possuídos desses dotes coracionais de que aos poderes públicos cabe a obrigação total de proteção.
Já nos sítios, nos lugarejos, nas cidades pequenas o sentimento cristão de caridade se faz sentir em toda plenitude, através de uma ação desinteressada, dando tudo de si, sofrendo pelos outros, desenvolvendo uma atividade piedosa, no anonimato. Penetrando nos lares, conhecendo os problemas pessoais, vivendo com os que são infelizes Os corações bondosos terão um dia deixar de bater, mas tranquilos pela satisfação do dever cumprido.
Mas não é só com o que diz respeito à pobreza ou à doença que se exercita o ideal de servir. Por quantas outras razões e em quantas outras oportunidades se manifestam o sentimento da bondade, do altruísmo? Poderia ser um ideal servir até como criado, se bons os patrões; servir em vários sentidos a amigos; utilizar-se da sabedoria para ensinar; do amor, para amar; valer-se da capacidade de curar, para minorar os sofrimentos físicos; buscar forças da razão para amparar moralmente; julgar, fazendo justiça. Finalmente, a conquista suprema do ideal de servir – consagrar-se aos serviços de Deus, da Pátria e da Família.


*Artigo escrito por M.L.De Bona
Publicado no O Infalível, de Morretes e no
O Antoninense, em 1968