quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Padre Saviniano

Discurso proferido por ocasião da
inauguração do retrato do Padre Saviniano,
no Ginásio Estadual Rocha Pombo, no ano de 1953

Ao ser prestada uma homenagem a um vulto Morretense procurou-se, como era natural, comunicar esse ato às pessoas da família, para que se fizessem representar. Porém no caso presente, embora possuísse o virtuoso Vigário de Morretes parentes em segundo grau residentes na cidade de Curitiba, não acharam os organizadores desta solenidade, que o orador, o representante da família devesse vir de outra cidade.
Acreditaram que era aqui em Morretes que deveriam procurar aquele que, mais que ninguém, sentisse pelo homenageado amor, veneração, saudade. E ao ser convidado um Filho de Maria não visaram, também, os organizadores deste preito, à pessoa e sim ao que ela representa.
A família do Padre Saviniano é o povo de Morretes, e o orador é o representante desse povo, integrado em sua vida em muitos sentidos, inclusive no âmbito religioso onde se desenvolveu a figura ímpar do saudoso Sacerdote. Portanto, cabe ao povo agradecer esta homenagem, e o orador vem fazê-lo, com a emoção que sentem aqueles que falam com o coração.
O Padre Saviniano Ferreira bem merece a homenagem da colocação do seu retrato neste estabelecimento de ensino, porque foi ele também dedicado e competente Professor, sendo profundo conhecedor do idioma nacional e da língua latina. Ademais, os jovens que aqui receberam as luzes da instrução secundária, têm em sua memória especial veneração pela figura deste apóstolo do bem, por terem recebido, de suas mãos, as águas do batismo.
Independente desses traços que ligam a personalidade do piedoso Vigário ao vitorioso cometimento que é o ginásio de Morretes, não deve haver um só lugar em nossa terra que não sinta a presença daquele que, no dizer de saudoso Morretense, comparava-se a uma árvore robusta, cujo cerne não se prestava para alimentar fornalhas, mas que fornecia calor aos fogões dos pobrezinhos. Árvore que sempre pejada de flores e frutos, estava plantada à porta das choças dos pequenos, dos que sofriam para lhes dar a sua sombra, o seu pomo, a música de suas franjas. Árvore que alimentava o corpo, e como nas lendas, falava aos homens uma linguagem cheia de ensinamentos, doces conselhos de vida evangélica e simples.
O sacerdote de humildade franciscana passou pela terra como uma estrela cadente, para lançar nas almas que o compreenderam e hauriram seus ensinamentos uma sementeira de luz, em que as flores divinas do amor, da pureza, da bondade, do altruísmo e das mais belas virtudes cristãs desabrocharam plenamente. Desabrocharam como uma prova dos cuidados e da dedicação sem par do jardineiro que as semeou e as regou com suas lágrimas, dia a dia, minuto a minuto, dando-lhes às vezes o calor gerado pelos seus próprios sofrimentos físicos.

O poeta Gelbeck escreveu estes versos em homenagem a um justo:

Cantar os que passaram para a história,
Nos cavalos de bronze resupinos,
Falar dos que na liça se mostraram
De armaduras de ouro e lança em riste,
Relembrar os escudos de nobreza
Que se esculpiram nos portais do orgulho,
Bem se pode fazer enchendo o peito
De chama viva e de tonante gesto.
Mas colher cautelosa entre mil folhas
A meiga violeta que se esconde
E só pelo perfume se revela,
É preciso ter a alma aberta ao sonho.
Achar um coração, como a bonina
Que nasce ao longe dos jardins vaidosos,
Descobrir na batina empobrecida,
A bondade sublime de Anchieta.
É preciso que Deus nos guie os passos
Para encontrar a pérola no fundo
Do mar imenso desta vida incerta.
Da gratidão a boca em prece ardente
Proclamou o valor de um padre humilde
O modesto vigário de Morretes:
SAVINIANO

Meus Senhores!
Agradeço, pois, de todo o coração, ao ilustre Sr. Dr. Luiz Silva e Albuquerque e às demais nobres figuras que compõem os quadros do novel e já muito conceituado Ginásio Estadual de Morretes, a bondosa iniciativa da homenagem, que outro objetivo não teve senão premiar uma vida santa, desapegada inteiramente dos bens fugazes deste mundo, piedosa e exemplar e que se dedicou totalmente a Deus e às almas.
Nesta oportunidade, felicito os Professores e os alunos pelo feliz encerramento do ano letivo, concitando a mocidade a continuar em seus estudos visando a elevar o nível cultural de nossa terra e o sucesso na vida particular de cada um.
Renovo meus agradecimentos e o propósito do povo de Morretes que represento, de trazer sempre presente em sua memória e em seus corações, os felizes momentos da inauguração do retrato, nesta sala, do nosso inesquecível Padre Saviniano.
Tenho dito.




Publicado no livro Tenho dito ; Morretes e morretenses 
nos discursos de Marcos Luiz De Bona, p.65

Um comentário:

  1. Oi Ligia!!! Achei sensacional!!! Agora ninguém esquece do Padre Saviniano.
    Já tomei a liberdade de adicionar (atualizei) no blog do meu site trechos da homenagem e coloquei em negrito aonde podem ver na íntegra o discurso e o poema. Assim aproveitam e visualizam vários blogs e site...
    Bjs e parabéns
    Karin

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