quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Librando ... Parte II, por Octávio Secundino

Librando, de hábito, vestia roupa zuarte, já um tanto surrada pelo uso.
Tinha Librando, pela Intendência, incumbência de colocar querozene e acender os lampiões das ruas, um em cada esquina, tipo candelabro, presos a um braço de ferro. Escada ao ombro, vasilhame com alça provido de querozene, saquinho com torcidas de arriagem, archote aceso, cantando, dando boa noite a todos que passavam com esta expressão tão amável da gente boa "Deus vos de boa noite e Nossa Senhora do Porto o abençoe". Gente da nossa gente que nasceu para o bem.
Aos meus olhos recordativos, voltados à distância, mui longe, da meninice à velhice, num silêncio de meditações arrancando suspiros de saudade, parece que revejo, em seu contínuo vai-vem, o bondoso Librando sorrindo, cantando, subindo a tôsca escadinha e encher de luminárias aquêles imperiais lampiões, suspensos nas esquinas, que aureolavam em seu derredor, num bruxulear, mortiça claridade acetilêna que se refletiam nas vidraças (...)



Como Librando, em Morretes, outros acendedores em outras cidades do nosso Brasil antigo, exerceram esse ofício durantes muitos anos, até o surgimento da luz elétrica.
O poema de Jorge Matheus de Lima mostra a importância da profissão daqueles homens da época, comparados, simbolicamente, aos profissionais de hoje da área de energia.
 
Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!

Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita: —
Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões da rua

2 comentários:

  1. Ligia :
    Fiquei pensando no Librando, que figura ...
    Resolvi escrever e sentir a diferença do ontem e do hoje...
    Com carinho Zelinda.

    Ligia !!

    Fiquei pensando comigo mesma….
    Será que o Librando tinha carteira assinada?
    Será que o Librando recebia uniforme completo para trabalhar?
    Será que o Librando tinha vale refeição?
    Será que o librando ganhava cesta básica?
    Será que o Librando ganhava, Bolsa Familia, gaz, Luz de baixa renda?
    Será que o Librando tinha 13º Salario e Férias?
    Será que o Librando, Sábados e Domingos e Feriados recebia, horas extras?

    O Librando ganhava muito mais que tudo isso, era amado e querido por todos, iluminava por onde passava, e deixou esse rasto de LUZ nesta postagem para que nós pudéssemos conhecer a sua história.

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  2. Ligia, me liguei no seu blog, muito legal.
    Esta historia real não conhecia.
    Só a historia do lampião e Maria Bonita...
    Abçs DILBERTO

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